quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Encontrei uma publicação de cordel "O Romance da Rendeira" de Guilherme Faria

estou publicando uma parte quem quiser ler o conto todo acesse textolivre.com.br 

Havia na minha aldeia
Uma única beldade,
Moça prendada rendeira,
Leal como a lealdade.

12
Jamais trairia alguém
Quanto mais o seu amor,
Mas foi do ciúme refém,
Causadora de rancor.

13
Sem lamentar o seu fado,
Sem levantar os olhinhos,
Quanto mais olhar pro lado
Com tantos urubuzinhos.

14
Ciúme, que coisa fútil,
Se não fosse “catastrófe”
Para falar desse inútil
Necessito nova estrofe.

15
Desculpem a rima falsa,
Falsa como o mesmo ciúme
Que só pensar dá friúme,
Mala vazia, sem alça.

16
Pois a nossa heroína
(vou chamá-la de Malvina
Para facilitar a rima
Em mais dois versos de cima)

17
Era pura e verdadeira
Não merecia o cutelo
Com que foi morta na esteira,
Por um que nem era Otelo.

18
Tudo começou com a renda
Que Malvina enredou
Por uma falsa encomenda
Que um malungo inventou.

19
Era bem fácil fazer
A moça se dedicar
A um trabalho de tecer,
E por isto se apaixonar.

20
Cada trabalho de renda
Era por si um louvor
À beleza e ao amor,
Embora estivesse à venda.

21
Mas aquele pervertido
Sendo esperto e atrevido,
Aproveitou-se do fato
E comprometeu tal ato.

22
Todo dia vinha olhar
O andamento da trama,
Punha sugestão no ar,
E muito louvor, o sacana.

23
Com isso comprometia
O trabalho da artezã
Com a sua companhia,
Com a sua teia vã.

24
Eis, senhores, a maldade
Contida no sedutor:
Para enrolar uma beldade
Basta um fio condutor.

25
E assim, qual Ariadne
Às avessas, desfiou
O fio da teia de Aracne
Pro labirinto que armou.

26
O noivo da bela Malvina
Afinal desconfiou
Dessa teia muito fina
E de quem a encomendou.

27
Aquilo era uma obra-prima,
Só podia ser paixão;
Traição, ó triste rima
 
Para um causo do sertão!

28
Pois onde entra a maldita
Sai o amor, entra a desdita
E logo assoma a morte
Co’ algum instrumento de corte

29
Como cutelo ou sovela
Como foi no caso dela,
Que o noivo era sapateiro,
Nas horas vagas, coveiro.

30
Malvina naquela noite
Cujas horas como açoite
Demoravam a passar
Esperando o seu penar,

31
Sabendo que o confronto
Viria na hora do sono
Pois o ciúme, seu patrono,
Tinha atingido o ponto

32
Mais alto, naquela mente
Do sapateiro demente
Que naquela mesma hora
Resolvera: “É agora!”

33
Malvina fez uma prece
E cantou uma canção
D’um salgueiro que, parece,
Não existe no sertão.

34
E depois deitou na esteira
Com a mão no coração:
Ele assomou na soleira
Com a sovela na mão

35
E perguntou: “Já fizeste
A oração que lhe cabe?
Pois agora tu me deste
A permissão que te acabe.”

36
E degolou a ovelhinha
Que só um suspiro deu,
Morrendo a pobrezinha
Por perfecionismo seu.
 

37
Pois seu único pecado
Foi o amor e a candura
Que aquela alma pura
Pôs num trabalho arretado:

38
Uma renda, uma teia,
Exposta numa parede
Do museu da nossa aldeia
Que tem renda... e tanta rede!

FIM

Um comentário:

Lurdinha disse...

Olá Rosa!Obrigada pela sua carinhosa visita na minha do orkut viu?Me alegro saber,que também gostas de artesanato e principalmente a Renda de Bilros.Eu não sei fazer rendas, mas minha mãe quando jovém fazia muito esse lindo trabalho.Por minha região é bem comum trabalhos com bilros.Dei uma olhadinha no seu blog e vi que é muito legal! Parabéns!!!.Bem amiga da arte,espero ficarmos em contato.Um abraço e até mais....